Este artigo descreve o ecossistema de inovação social de Florianópolis, composto por um mosaico de atores e de elementos de contexto. Entende-se que os processos de inovação social podem ocorrer a partir da ação de organizações sem fins lucrativos, políticas públicas ou por organizações privadas (Mulgan et al, 2007) e se estabelecem como ação coletiva em resposta à problemas públicos, com o propósito de criar soluções para os desafios do território em que se instala. Dessa forma, a inovação social ocorre a partir das mudanças promovidas pela mobilização e engajamento desses diferentes atores na solução de situações problemáticas reconhecidas pela comunidade.
Tendo por base esse entendimento, o objetivo deste artigo é descrever o ecossistema de inovação social observado ao longo de 12 meses, entre novembro de 2015 e 2016, na ilha de Florianópolis, localizada no estado de Santa Catarina, ao sul do Brasil. A escolha desse território decorre de sua vocação para o empreendedorismo, tecnologia e inovação, fato que o levou a ser reconhecido, em 2015, como a cidade mais empreendedora do Brasil em uma pesquisa realizada em 14 capitais do país pela Endeavor.
A história do fomento à vocação empreendedora neste território inicia-se na década de 1980, com a criação da primeira incubadora de negócios de base tecnológica. Na época, foi uma alternativa para gerar emprego e renda, além do serviço público e do turismo de veraneio, atividades principais da cidade. Nesse ensejo, um pólo tecnológico começou a ser estruturado a partir de 1984, com a criação da Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (Certi) e, dois anos depois, da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (ACATE), que articula ações entre o setor tecnológico catarinense, centros de ensino e pesquisa e agências de financiamento. Em 2016, o polo alcançou um número de 600 empresas do setor que faturam R$ 1 bilhão por ano e crescem a uma média anual de 15%.
Nesse cenário profícuo, emergiu, a partir de 2010, um ecossistema de inovação social que despertou a atenção dos pesquisadores pelo grande número de pessoas e organizações mobilizadas. O intuito é o de observar e descrever como esse ecossistema está se organizando e em que medida as iniciativas geradas podem de fato serem consideradas inovações sociais.
O ecossistema identificado é composto pelas iniciativas que buscam a promoção da inovação social, pelos atores que oferecem suporte e por um contexto que permitiu o surgimento e o desenvolvimento desse ecossistema e que por ele é modificado ao longo do tempo. A análise teórica realizada baseia-se em autores como Lèvesque (2016), Tepsi (2014), Stamp (2015), entre outros e considera os desafios do território.
Especificamente, a análise empreendida considerou três grandes categorias: (1) o contexto, formado pelas políticas públicas nacional, regional e local, os aspectos culturais e cognitivos: história, crenças e valores e, os desafios do território; (2) os atores de suporte à inovação social, agrupados em onze categorias: formadores, promotores de empreendedorismo social, centros de pesquisa e extensão, financiadores, apoiadores técnicos, articuladores, espaços de troca de informações, diálogo, reflexão e comunicação, incubadoras, aceleradoras e certificadoras; (3) as iniciativas de inovação social foram organizadas em dez categorias: empreendedor pessoa física, coletivos informais, movimentos sociais, associações, fundações, cooperativas, negócio social ou negócio de impacto social, empresa privada, redes, além de outros atores que poderão surgir ao longo da pesquisa.
Como resultados parciais sobre o contexto foram identificadas políticas públicas que contribuem para o desenvolvimento de iniciativas, mas que não são específicas para inovação social. Sobre os desafios do território, foram mapeados 4 relatórios que abordam problemáticas de Florianópolis. Com relação aos atores de suporte, foram identificados 117, em 10 categorias. Observou-se um ecossistema atuando em iniciativas voltadas a negócios sociais e empreendedorismo social de base tecnológica, sustentabilidade ambiental e participação da sociedade civil nas políticas públicas. Apesar da existência de todos esses fatores, a pesquisa não encontrou ações sinérgicas entre os atores, conforme destacado em Lévesque (2016). Por fim e ainda em andamento, foram identificadas até o momento 44 iniciativas de inovação social com diferentes formatos organizacionais, nem todas direcionadas às problemáticas do território.
Mulgan, G., Tucker, S., Ali, R., & Sanders, B. (2007). Social innovation: what it is, why it matters and how it can be accelerated.
Lévesque, B. (2016). Économie sociale et solidaire et entrepreneur social: vers quels nouveaux écosystèmes?. Revue Interventions économiques. Papers in Political Economy, (54).
Stam, E. (2015). Entrepreneurial ecosystems and regional policy: A sympathetic critique. European Planning Studies, 23(9), 1759-1769.
Tepsie. (2014) Building the Social Innovation Ecosystem. A deliverable of the project: “The theoretical, empirical and policy foundations for building social innovation in Europe” (TEPSIE), European Commission – 7th Framework Programme, Brussels: European Commission, DG Research.
2. Social innovation and social entrepreneurship