Florianópolis, a capital do estado de Santa Catarina, reconhecida como a capital mais empreendedora do Brasil segundo a Endeavor, é palco de iniciativas de destaque no campo do empreendedorismo social, capitaneadas por atores da sociedade civil e governamentais. Por outro lado, a cidade está imersa em um contexto permeado por problemas econômicos, ambientais e sociais de difícil solução. Inúmeras organizações formam o ecossistema de inovação social na cidade e se estabelecem em torno de festivais, seminários e eventos que reúnem grande número de participantes e interessados em construir “um mundo melhor”. Diante disso, pergunta-se: em que medida essas iniciativas incidem sobre os problemas públicos em torno do qual se mobilizam?
Essa pergunta vai ao encontro de um questionamento presente nos campos políticos, econômicos e científicos que busca responder como inovações sociais ocorrem e quais as suas consequências. Entendemos inovação social como uma mudança decorrente do engajamento de coletivos na solução de problemas públicos (Andion et al, 2017). Sendo assim, ela promove uma dinâmica de mudança social a partir do engajamento de diferentes atores componentes do ecossistema de inovação social, sejam eles públicos, privados ou da sociedade civil organizada.
Essa perspectiva parte de uma abordagem pragmatista que, conforme Andion et al (2017), foca a análise nas experiências vividas pelos atores ao combater os problemas públicos, podendo ser melhor compreendida se observada dentro de uma perspectiva multinível em espaços chamados de arenas públicas. Cabe destacar que esses espaços não pressupõe consenso ou homogeneidade de atores, crenças e ações, mas uma miscelânea desses elementos (Cefai, 2002) que variam ao longo do tempo.
Diante o exposto, dois grupos de pesquisa da Universidade do Estado de Santa Catarina se propuseram a estudar, discutir e fomentar inovações sociais direcionadas às demandas do território em que se localizam. Assim, observando os pressupostos supra descritos estão desenvolvendo duas ações: a criação de um Observatório de Inovação Social de Florianópolis e de um Laboratório de Educação para a Sustentabilidade. O objetivo deste artigo é descrever essa iniciativa de cooperação.
O Observatório de Inovação Social de Florianópolis mapeará, observará e acompanhará longitudinalmente o desenvolvimento desse ecossistema, num modelo baseado nos estudos de Lèvesque (2016), Stam (2015) e Tepsi (2014), considerando o ecossistema de inovação social composto por elementos do contexto, atores de suporte à inovação social e as iniciativas de inovação social, podendo essas serem públicas, privadas ou de organizações da sociedade civil organizada.
Já o Laboratório de Educação para a Sustentabilidade reunirá diferentes atores discutindo os problemas públicos e prototipando soluções a partir da metodologia dos living labs (Franz, Tauz; Thiel, 2015), de forma a reproduzir uma arena pública, ou seja, um cenário apropriado para o desenvolvimento da pesquisa pública, nos moldes propostos por Dewey (1927). Esse modelo remete ao conceito de social inquiry que pressupõe a capacidade dos atores envolvidos com as questões problemáticas para apreender, analisar, refletir e propor soluções para seus problemas. Dessa forma, enquanto o Observatório tem por objetivo mapear e acompanhar o ecossistema de inovação social, o Laboratório busca a criação de espaços para discussão dos problemas públicos observados e o engajamento dos diferentes atores envolvidos com determinadas problemáticas para a proposição e prototipagem de soluções. Tudo isso ocorre a partir da lógica da inovação aberta (Leminen; Westerlund; Nystron, 2012), voltada à soluções sustentáveis e que resolvam problemas do território de Florianópolis, podendo incidir sobre as políticas públicas, por meio de proposições desenvolvidas no contexto estudado.
ANDION, Carolina; RONCONI, L.F.de A. ; GONSALVES, A ; MORAES, R. L. ; DAVI, L.B.D . (2017) Sociedade civil e inovação social na esfera pública: por uma análise pragmatista. Revista de Administração Pública (Impresso).
CEFAÏ, Daniel. Qu’est-ce qu’une arène publique? Quelques pistes pour une approche pragmatiste In CEFAÏ, Danie ; JOSEPH, Isaac (Org.), L’Héritage du pragmatisme. Conflits d’urbanité et épreuves de civisme. Paris: La Tour d’Aigues, Éditions de l’Aube, pp. 51-82, 2002.
DEWEY, J. (1927) The Public and its problems. Chicago: Swallow Press.
FRANZ, Y., TAUZ K., and THIEL S. (2015). Contextuality and Co-Creation Matter: A Qualitative Case Study Comparison of Living Lab Concepts in Urban Research. Technology Innovation Management Review. 5, 12. December.
LEMINEN, S., WESTERLUND, M. and NYSTRON, A. (2012). Living Labs as Open-Innovation Networks. Technology Innovation Management Review. September.
LÉVESQUE, B. (2016) Économie sociale et solidaire et entrepreneur social: vers quels nouveaux écosystèmes? Reveue Interventions économiques, [En ligne], 54,| 2016.
STAM, E. (2015). Entrepreneurial Ecosystems and Regional Policy : A Sympathetic Critique, Utrecht School of Economics, Tjalling C. Koopmans Research Institute, Discussion Paper Series 15-07.
TEPSIE. (2014) Building the Social Innovation Ecosystem. A deliverable of the project: “The theoretical, empirical and policy foundations for building social innovation in Europe” (TEPSIE), European Commission – 7th Framework Programme, Brussels: European Commission, DG Research.
2. Social innovation and social entrepreneurship