Este paper tem como propósito expor em que medida se evidencia a perspectiva da utilidade social na sustentabilidade das finanças solidárias brasileiras. Em outros termos, pretende-se analisar a sustentabilidade de práticas de finanças solidárias a partir dos referenciais de utilidade social. As finanças solidárias no Brasil, notadamente os bancos comunitários e os fundos rotativos solidários, assumem um destacado papel de promotor do desenvolvimento territorial, do empoderamento e da organização comunitária, ao articular – simultaneamente – produção, comercialização, financiamento e capacitação das comunidades do território. Assim, para avaliar estes experiências como foco na sua sustentabilidade a partir da sua utilidade social é necessário aprofundar a compreensão deste conceito e incorporar os seus referenciais como aspecto central em uma matriz de dimensões, critérios e indicadores que leva para uma proposta de avaliação de finanças solidárias. Dentre os resultados são apresentadas dimensões e indicadores a serem utilizados na avaliação de práticas de finanças solidárias brasileiras para se perceber sua utilidade social. O desafio foi construir essa matriz de indicadores para avaliação da utilidade social nas finanças solidárias que permitisse qualificar o conjuntos dos resultados das atividade em relação aos aportes de recursos públicos e privado; colocar em evidência a variedade de recursos (hibridação de recursos) e, notadamente, as contribuições não monetárias; e efetuar o diálogo entre a utilidade social e os novos fatores de riqueza, também nas práticas das finanças solidárias. Essa aproximação entre o redesenho do fatores de riqueza e a utilidade social das finanças solidarias é, a propósito, um dos temas centrais do paper. Aliás, a procura por novos indicadores de riqueza, de mensuração do bem-estar ou do desenvolvimento sustentável está em curso, e convidam a romper o determinismo do PIB como medida, a renovar a reflexão democrática a partir da questão da identificação e da preservação dos direitos humanos fundamentais, dos bens comuns e do interesse geral. Outrossim, como apresentado neste paper, as riquezas ou os bens comuns das organizações, dos território e mesmo das nações devem ocorrer somente fruto de convenções compartilhadas, as quais devem analisar as formas de participação dos atores e das forças sociais nesta construção. Finalmente, a avaliação da utilidade social de uma política pública, de uma organização da economia solidaria ou de um projeto associativo, efetuado em uma metodologia adequada, já pode ser considerada uma forma diferenciada de reconsideração das riquezas, na qual um coletivo territorial monta ou reordena seus fatores de riqueza. Este é um dos ordenamentos orientadores da avaliação da sustentabilidade de práticas de finanças solidárias a partir dos referenciais de utilidade social que se obter como um dos resultados deste paper. Portanto, a utilidade social em empreendimentos de finanças solidárias não está somente em fomentar e apoiar oportunidades econômicas plurais no território. De fato, tais práticas ao promoverem o desenvolvimento de oportunidades econômicas estão fortalecendo a emancipação social e o empoderamento politico. São estes dois aspectos, os quais podem fortalecendo-se, mutuamente, reformular o conceito, redefinir os fatores e reposicionar a representação da riqueza e da avaliação das sustentabilidade das práticas de finanças solidárias brasileiras.
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